Israel e Palestina: Um mar de propaganda
01 de Junho de 2010, 20:50
Qualquer episódio que envolva, directa ou indirectamente, o conflito israelo-palestiniano é sempre dominado por propaganda de ambas as partes. A recente tentativa de entrada em Gaza de uma frota de ajuda humanitária não é diferente.
Parece ser inquestionável que a opção operacional usada por Israel para parar os navios não foi a mais adequada e, embora seja ainda prematuro fazer uma avaliação definitiva, tudo indica que foi desproporcional. Israel tenta justificar a acção como legítima defesa, mas o tipo de abordagem parece largamente injustificada.
Contudo, para que não fiquemos enredados nas narrativas difundidas por partidários de Israel e da Palestina, importa ter presente toda a trajectória do caso.
Assim que se tornou pública a intenção dos activistas, Israel propôs que a entrega de ajuda fosse feita por terra, uma oferta recusada pelos manifestantes.
Por outro lado, ainda os navios estavam na Turquia, já havia manifestantes em Istambul, junto ao consulado israelita, activistas que já nessa altura pareciam prontos para o vandalizar assim que soubessem do insucesso da missão das embarcações – embora a frota tivesse ainda que fazer uma escala no Chipre antes de chegar a Gaza.
Embora seja indiscutível a necessidade de enviar ajuda humanitária para Gaza, a postura de Israel não é tão intransigente quanto se anuncia e nem o Hamas é tão altruísta quanto advoga ser.
Israel deixa entrar cerca de 15 mil toneladas de ajuda humanitária em Gaza por semana. Já o Hamas tem assaltado várias organizações humanitárias em Gaza e é conhecido por apenas fornecer ajuda a correligionários, ignorando indivíduos favoráveis à OLP – igualmente palestinianos.
Embora se apresentassem como activistas pró-paz, aparentemente a bordo dos navios estavam membros da organização IHH, um grupo conhecido por ter laços estreitos com o Hamas e suspeito de o financiar.
Antes de embarcar, alguns membros desta organização assinaram os seus testamentos e declarações de últimos desejos. Aliás, em entrevistas posteriores à sua detenção, estes activistas disseram estar empenhados na “resistência” a Israel e manifestaram o seu desejo de morrer como “mártires”.
Por muito bem intencionados que fossem alguns activistas, e como os factos anteriormente enunciados demonstram, a iniciativa foi uma provocação premeditada. Esta pretendia colocar Israel no meio de um desastre de relações públicas que, a avaliar pela cobertura noticiosa, foi um objectivo alcançado.
As tentativas de negociação foram rejeitadas pelos activistas, as ordens de paragem no mar foram ignoradas e, dada a natureza de alguns dos grupos que integravam a frota, a acção estava longe de ser politicamente inócua.
Diogo Noivo.
Investigador do Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança(IPRIS)
quarta-feira, 2 de junho de 2010
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